A
lembrança
mais
antiga
que
tenho
de
Osmar
Cunha
é
de
Taiobeiras,
ano
de
1949,
quando
ele,
estudante
de
contabilidade
em
São
Paulo,
veio
passear
por
um
período
de
férias.
Sério
e
alegre
ao
mesmo
tempo,
mais
novo
do
que
a
idade
exigia,
era
a
elegância
em
pessoa,
com
ternos
e
gravatas
da
última
moda,
tecidos
caros,
cortes
perfeitos,
qualidade
distante
para
as
que
qualquer
outro
vivente
comum
poderia
usar,
inclusive
seu
irmão
Dudu
Cunha,
que
também
era
muito
grã-fino.
Ninguém
vestia
ou
calçava
como
Osmar,
porque,
de
São
Paulo,
ele
sempre
escolhia
o
melhor,
uma
vez
que
dinheiro
e
bom
gosto
nunca
lhe
foram
problemas.
Invejado
por
nós,
pobres
mortais
de
Taiobeiras?
Não,
não
creio.
Na
verdade,
Osmar
Cunha
era
é
respeitado,
admirado,
elevado
a
um
patamar,
algo
assim
como
se
fosse
herdeiro
do
trono
do
Brasil.
O
melhor
a
quem
de
direito!
Também
não
me
lembro
de
Osmar
namorador
como
Dudu,
ou
como
qualquer
outro
de
nós,
mesmo
os
meninos,
que
normalmente
tinham
mais
de
um
flirt.
Osmar
era
comedido,
calmo,
mais
ligado
às
pessoas
de
idade,
para
conversas
de
assuntos
mais
importantes.
Mesmo
para
uma
cidadezinha
culta
como
era
Taiobeiras
em
1949,
quando
se
discutia
literatura,
acontecimentos
mundiais,
artes,
esportes,
concursos
de
misses,
quando
existia
uma
meia
dúzia
com
algum
domínio
do
inglês,
Osmar
ainda
era
considerado
de
padrão
superior,
principalmente
por
morar
e
estudar
no
centro
da
cidade
de
São
Paulo,
como
filho
de
família
rica.
Mas,
no
meio
de
toda
importância,
Osmar
fazia
algumas
concessões
ao
jogar
futebol,
nadar
na
barragem,
jogar
pôquer,
dançar,
dar
voltas
em
torno
da
feira
de
sábado,
ir
à
missa
na
antiga
igreja
perto
de
sua
casa.
Namorar,
namorar,
que
era
o
esporte
mais
gostoso
era
só
com
a
Laury,
a
moça
mais
culta
e
mais
bonita,
também
viajada
e
lida
como
ele.
Ou
mais
que
ele!
Não
me
lembro
de
Osmar
político,
candidato
a
prefeito
de
Taiobeiras,
porque
aí,
eu
já
morava
em
Montes
Claros.
Talvez
por
uns
dois
passeios
rápidos
por
lá,
quando
eu
ia
ver
Olímpia
e
a
minha
família,
tenho
lembranças
poucas,
flashes
dos
acontecimentos,
com
um
quadro
mergulhado
de
paixões,
a
situação
batendo
duro,
furtando
escandalosamente
para
não
perder
o
mando,
não
respeitando
nem
a
elegância
de
Osmar.
Lembro-me
de
Laury
lutando
com
todas
as
forças,
até
pegando
em
armas,
como
um
dia
em
que
ela
espantou
uma
multidão
de
adversários,
fazendo
todos
correrem
sob
a
mira
de
uma
carabina.
Mas
de
Osmar,
não
me
lembro!
Sua
capacidade
administrativa,
assim
como
sua
diplomacia
elevada
bem
acima
das
efervescências
maledicentes,
não
o
pôde
conduzir
a
vitória.
Votos
comprados,
urnas
fraudadas,
todo
tipo
de
astúcias
e
tramóias
dos
adversários
tiraram
a
sua
vez.
Triste
e
desiludido
mudou-se
para
Montes
Claros.
Secretamente,
caladão,
nunca
cicatrizou
a
paixão
da
derrota.
Com
amargo
sorriso
era
que
falava
da
política
de
Taiobeiras.
Acredito
que
esperava,
se
mais
vivesse,
dar
um
elegante
troco
àquela
gente
de
sua
terra.
Em
Montes
Claros,
sempre
comerciante,
ao
lado
de
Dudu
ou
sozinho,
Osmar
talvez
tenha
sido
o
empresário
mais
amado
e
querido
por
seus
funcionários,
por
seus
clientes,
pelos
fornecedores.
Não
sei
e
talvez
ninguém
saiba
de
alguém
que
não
gostasse
dele.
As
pessoas
o
adoravam
e
nele
confiavam
sem
limitações.
Nenhum
documento
valia
mais
que
a
palavra
de
Osmar.
Nenhum
prazo
era
tão
rígido
no
comércio
que
ele
não
pudesse
ceder
em
favor
de
um
devedor
mais
apertado.
Quantas
vezes
Dudu
não
ficou
com
o
coração
nas
mãos
diante
da
bondade
de
Osmar,
sempre
ajustando
vencimentos,
sempre
ajudando
alguém!
Osmar
era
uma
espécie
de
pai
dos
pobres
e
deserdados,
que
o
digam
os
pequenos
comerciantes
de
Montes
Claros
e
de
todas
as
cidades
do
Norte
de
Minas
e
Sul
da
Bahia.
Até
hoje
posso
imaginá-los
chorando
de
saudades!
Osmar
Cunha,
inesquecível
presidente
do
Elos
e
do
Rotary,
marido,
pai,
irmão,
companheiro
e
professor
de
muitos,
nunca
foi
um
homem
comum,
nem
só
um
homem
elegante.
A
estrela
de
ouro
que,
por
nobreza,
deixou
no
mundo,
por
muito
tempo
ainda
brilhará
e
abrirará
caminhos
de
luz,
de
amizade
e
de
admiração!