Bons
dias aqueles em
que não
se fechava nem
a porta dos fundos,
nem a porta da
frente. As casas
eram territórios
abertos dia e
noite, sem perigos,
sem ameaças
de amigos ou inimigos
do alheio. O muito
que poderia acontecer
era que o último
a entrar trancasse
a porta, como
ocorria na casa
do meu pai e na
casa do meu sogro,
em Taiobeiras.
A porta ficava
apenas encostada,
para não
entrar vento ou
poeira. As visitas
não precisavam
nem bater: iam
entrando e dizendo
ô-de-casa,
ô-de-casa!
A família
ouvia tudo, pois
normalmente ficava
da sala de jantar
para a cozinha,
conversando em
torno da lareira
ou do fogão
a lenha, com o
frio a aproximar
todos, velhos
e novos, numa
boa prosa mineira.
Bons tempos aqueles!
Cachorro era para
comer de comida
e latir, não
era para vigiar
casa. Não
existia necessidade
de segurança.
Lembro-me de que
em todo o tempo
que trabalhei
em Mirabela, isso
já nesta
década,
nunca fechei a
porta da república,
nem cedo, nem
à tarde
ou na boquinha
da noite. Ficava
escancarada para
o vento e para
o sol e até
para a lua, de
vez em quando.
Hotel de mil estrelas,
como dizia o Jadir
Duarte. Tudo seguro
como um bastião
da Idade média,
principalmente
porque ao lado
da delegacia.
Chave do carro
nunca tirei do
lugar, na porta
do banco ou na
garagem. Para
que tanto cuidado,
se não
havia ladrão?
Mirabela, em matéria
de sossego, era
como Taibeiras
ou São
João do
Paraíso,
ou como Capitão
Enéas no
tempo do Capitão.
A cada dono o
que é seu.
Respeito é
bom e todo mundo
aprecia!
Tudo isso eu falo,
para dizer que,
agora, até
em Brasília
a situação
de tranqüilidade
mudou muito e
mudou para pior.
Nem a capital
da Esperança
pode viver a paz
dos primeiros
tempos, sem preocupações,
sem aborrecimentos.
Nem Brasília
é cidade
segura, embora
ainda não
precise de muros,
de cercas, de
vigilância
de cães
ou de guardas
armados como em
outras capitais
ou cidades maiores.
Até aqui,
que era eterno
paraíso,
a vida mudou,
exigindo formas
de segurança
nos blocos residenciais,
mais cuidado no
lazer, um pouco
de atenção,
embora com ausência
de medos. Chega
a vez da eletrônica
exercer o seu
papel, como já
fazia nos centros
mais desenvolvidos
do mundo na década
de sessenta, com
a instalação
de interfones.
O que, antes,
era por sofisticação,
por luxo, nos
edifícios
granfinos, já
se verifica por
necessidade, por
controle. Nenhum
visitante chega
mais de surpresa!
O que era bom,
agora é
melhor. Já
não mais
só a voz,
a fala, o sotaque
amigo ou desconhecido.
Está chegando
a imagem de televisão
por circuito fechado.
Ao ouvir a chamada,
liga-se o televisor
em determinado
canal e lá
estará
o visitante, a
sua cara boa ou
ruim, a beleza,
o charme ou a
feiúra,
se é um
simples mortal
ou gente muito
importante. No
bloco I da 115
Norte, já
existe este sistema.
Os próximos
dois prédios
a contar com a
novidade estarão
na 309 N, já
em construção.
Também,
para maior segurança,
estão sendo
montado circuitos
com raios infravermelhos
ou com sensor
que detecta a
caloria de um
possível
intruso. E coisas
ainda mais sofisticadas
virão por
ai! Tudo com contrato
em OTN!
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