Wanderlino
Arruda
Minha crônica sobre a viagem a Portugal,
quando Wladênia nasceu, há
dezoito anos, foi muito gratificante.
Muitas foram as palavras de carinho recebidas
em casa, na escola, de amigos. Quando
um assunto versa sobre alguma coisa de
mais pessoal, fala mais ao coração,
transubstancia sentimentos, vale pela
carga ou sobrecarga de afetividade, diz
o que muitas pessoas gostariam de dizer.
Agrada e sensibiliza, graças a
Deus! E o mundo está precisando
muito de vibrações mais
positivas, de alegria, de amizade sincera
e franca. Assim, dou-me por satisfeito
e volto ao assunto de Lisboa, o que estava
mesmo nos meus planos ao falar das andanças
pela pátria-mãe.
É possível que a parte maior
da minha felicidade em Lisboa tenha sido
pela companhia de bons companheiros de
viagem, entre eles duas pessoas do mais
alto valor, duas personalidades admiráveis
e inesquecíveis, gente que engrandece
o ato de viver. Dulce Sarmento e Antônio
Loureiro Ramos. Que bons colegas e quanta
jovial sinceridade naqueles dois! Como
amavam a vida! Fazia gosto vê-los
quedado diante da beleza, emudecidos de
emoção diante do bem. Antônio
Ramos era homem de conhecer o que havia
de melhor no mundo e por isso, era viajante
incansável ao lado de D. Flora,
sua mulher. Dulce Sarmento, a arte personificada,
uma fé que beirava à santidade,
tinha na balança do belo a leveza
dos anjos!
Foi assim no meio de um grupo admirável
que vi Lisboa, a cidade que mais encanta
os brasileiros e conosco se encanta também.
Não posso calcular em quanto a
“revolução dos cravos
vermelhos” tenha modificado a capital
e o povo da nação portuguesa,
depois da descolonização
da África e das enchentes de retornados
com diferentes costumes e muita revolta
nos corações. Mas, por mais
que tenham feito, acredito que Lisboa
ainda é uma cidade muito interessante
e para nunca se esquecer! Por lá,
passei também duas vezes sozinho,
solitário, ruminando emoções
no Castelo de São João,
nas ruas estreitas de Afama, nas margens
do Tejo, na Estufa Fria, às margens
da Avenida da Liberdade e até no
barulho da Praça dos Restauradores.
É preciso tempo e coração
para descobrir Lisboa, eterna menina e
moça, linda e encantadora. Como
é gostoso ouvir falar do povo,
principalmente os mais novos, os que,
namorando, falam com a melodia do amor!
Como é bonita a língua portuguesa
falada nas tascas, onde os bebedores ainda
não bêbados soltam a língua
com a musicalidade que só os libertos
pelo torpor do vinho conseguem! Tudo é
bonito quando estamos felizes: o barulho
das crianças, o anúncio
dos vendedores, a algazarra dos desocupados!
Sons, cores, movimentos, gestos, tudo
é alegria!
É preciso saber viver cada momento,
tirar da vida os encantos que a vida tem,
agradecer a Deus cada momento bom que
a existência nos oferece, nos proporciona,
nos permite. Merecedores ou não,
é gratificante aproveitarmos, fruirmos
cada instante feliz. Não importa
onde nem quando. Se for em Lisboa, leitor,
então nem é preciso pensar:
a realidade é mais do que o sonho!