Wanderlino
Arruda
Eu lera com sofreguidão e por
várias vezes o anúncio
“assinado” por Leonardo
da Vinci e publicado em revistas nacionais.
Era um convite para uma exposição
preparada, em Nova York, por um artista
da IBM americana e destinada a salões
do mundo inteiro, no Brasil às
cidades de São Paulo, Rio e Brasília.
A publicidade dizia, com atualização,
que até o fim do ano, mas sem
marcar data específica, os admiradores
da vida e da obra de Leonardo da Vinci
poderiam com calma, percorrer toda a
trajetória de suas invenções
de aparelhos, seus textos, seus enigmas
estariam à disposição
de quantos se interessassem e dispusessem
de algum tempo para viver e sonhar o
sucesso. Era só esperar!
Na ocasião da leitura do anúncio,
prometi a mim mesmo fazer viagem a qualquer
uma das três capitais, simplesmente
porque não poderia deixar de
ver a exposição, de conhecê-la,
de admirá-la como um presente
à cultura, ao conhecimento e
à existência. Vida difícil,
corrida, trabalhosa, o tempo passou,
e a desinformação do interior
acabou deixando passar despercebidas
as mostras de São Paulo e do
Rio. Nenhuma notícia, não
onde, não quando. Nenhuma explicação
para mim mesmo do porquê não
ter acompanhado o assunto com mais cuidado.
Cheguei a pensar mais tarde de quanto
teria perdido se não fosse o
acaso me ter colocado em Brasília
exatamente nos três últimos
dias de presença, do gênio
e d alma do Leonardo, mesclados com
a beleza e a grandiosidade do Teatro
Nacional, formando uma simbiose de artes
egípcia e italiana.
Primeiro assistir ao vídeo bem
feito com os principais fatos da existência
do mestre Leonardo, seus relacionamentos,
seus esforços, sua garra de criar
o impossível e possível.
Depois, o percorrer de todo o roteiro
inventivo. Não apenas um dos
maiores pintores da humanidade, a curiosidade
sem limites levou-o a explorar todos
os ramos do conhecimento, criando engenhos
ultrapassando obstáculos do tempo
e do espaço. Assim, pela ordem,
uma maravilhosa exposição
explicativa, descritiva, da ponte giratória,
do inclinômetro, da metralhadora
tripla, da impressora automática,
do maçado hidráulico,
da assadeira com ar quente. Logo adiante,
o higrômetro, o helicóptero,
o ornitóptero, a transmissão
de velocidade variável, a ponte
de dois níveis, o pára-quedas,
os cascos fusiformes e duplos de navios,
o mecanismo de relógio, o odômetro,
o tanque de guerra.
Leonardo da Vinci, através do
também gênio Roberto Guatelli
da IBM, autor de todas as maquetes realizadas
com absoluta precisão, estava
mais vivo do que nunca, presente até,
incorporado à mais avançada
tecnologia mundial do momento, despertando
e revivendo a admiração
de cada visitante. Ninguém é
capaz de resistir a emoção
de vê-los e amá-los, de
acompanha-los como maiores inteligências
e capacidades de sonho. Cinco séculos
depois, afinal, a IBM pôde oferecer
um dos mais belos acontecimentos, uma
das provas mais palpáveis do
quanto o esforço e a vontade
de vencer podem engrandecer o homem.
Não só o gênio é
necessário. Leonardo da Vinci,
mais do que qualquer outro artista é
criador, provou que o trabalho incessante
e decisivo ainda é a melhor forma
de produzir inteligência e genialidade.
Os séculos futuros jamais esquecerão
Leonardo da Vinci!