Godofredo
Guedes, Nosso Niguel Ângelo
Wanderlino
Arruda
Mesmo
pintando por prazer, a
exemplo de Miguel Ângelo,
Godofredo Guedes pintava
por profissão.
Genial, perfeito, verdadeiro,
amado-amante das tintas
e das cores, em quase
toda a sua vida foi um
importante e reconhecido
pintor. Suas aventuras
e venturas com os pincéis
tiveram início
na adolescência,
aos quinze anos, em 1923,
na cidade em que nasceu,
Riacho de Santana, Bahia,
onde estudou francês
e foi prático de
farmácia. Primeiro
trabalho, já com
toque de mestre, óleo
e pincéis, foi
na Gruta da Igreja de
Nosso Senhor Bom Jesus
da Lapa, barrancas do
São Francisco.
Até hoje lá
estão para a glória
de Deus e do autor, os
doze quadros bíblicos
da Via Sacra. Têm
sido um momento de místicas
contemplações
para muitos dos romeiros
e visitantes de quase
um século. Sempre,
uma religiosa admiração.
Depois da Bahia, depois
dos dias ensolarados do
sertão interiorano,
depois de encher a alma
dos tons ricos das águas
do São Francisco,
Godofredo Guedes veio
para Montes Claros, cidade
bem pequena em 1935, mas
com uma admirável
generosidade de muito
sol e muito azul: azul
no céu, azul nos
montes, azul nos tubos
de tinta azul da sua paleta
de artista fogoso. O homem
chegou pintando. Pintava
tudo. Pintava placas,
pintava letreiros, pintava
fachadas, pintava quadros.
Quando pintou o retrato
de grande Prefeito Dr.
Santos, recebeu dele um
bruto elogio: "como
poderia assim de modo
tão fácil
e artístico captar
tão seguramente
a personalidade de uma
pessoa?". Muitas
mudanças na cidade,
muitos anos são
passados e o retrato ainda
aí está
para quem quiser ver.
É um sucesso até
hoje.
Quantos quadros deve ter
Godofredo pintado em sua
venturosa vida? Difícil
saber, porque ele pintava
todos os dias, todas as
horas... Uns quatro ou
cinco mil, Ou muito mais...
Quantos amigos teve Godofredo?
Ninguém sabe, tantos
são eles, em toda
parte. Quantos filhos,
frutos de um feliz casamento
com D. Júlia? Isso
os montes-clarenses sabem:
foram oito – Terezinha,
Dolores, Neusa, José,
Hélio, Maristela,
Alberto e Lúcia.
Hélio é
o conhecido Patão,
do folclore e também
das tintas. Alberto, o
genial Beto Guedes, um
dos construtores da moderna
música brasileira.
Lúcia graduou-se
como médica na
Argentina e é doutora
há um bom tempo.
Os outros, com exceção
de nosso sempre saudoso
Hélio, todos de
alguma forma ligados à
pintura, aí estão,
solteiros, casados, felizes
sempre. Zeca – já
não mais tão
jovem como em nossos tempos
de Colégio Diocesano,
segue a trajetória
dos pincéis do
pai, mas até hoje
não quis pintar
quadros. D. Júlia
de Castro Guedes, que
sempre teve nas mãos
e no grito, o comando
da família, cuidou
de tudo e de todos. Foi
diretora e gerente ao
mesmo tempo. Mulher e
mãe que mandou
um bocado e com razão,
diante de família
tão grande e de
marido artista, que só
se via obrigado a enxergar
as belezas da vida. D.
Júlia foi, sem
qualquer dúvida,
uma admiradora do marido.
Falou dele sempre com
grande carinho, mesmo
quando estava de cara
fechada ou precisando
brigar. A ela, concordo,
devemos grande parte da
firmeza de GG, da sua
produção.
A maior tela de Godofredo
está em Belo Horizonte,
no Instituto de Educação.
Tem grande dimensão,
quatro metros por três.
Trata-se de um busto do
inesquecível João
Pinheiro, que provocou
lágrimas do filho,
Governador Israel, quando
o viu pela primeira vez,
diante de tanta emoção
face à beleza do
quadro.
Para o artista Godofredo
Guedes o seu melhor trabalho
foi realizado para outro
grande artista, o pintor
Konstantin Christoff:
um retrato do velho e
robusto Christo Raeff,
em cores marcantes, um
perfeição
de relevo de luzes e sombras,
de coloridos e matizes.
Trabalho bonito, vivo,
audacioso. Uma verdadeira
obra de arte alimentada
pelo calor da amizade
de dois grandes gênios
do pincel.
A maior glória
de Godofredo Guedes, no
seu próprio ponto
de vista era ter quadros
e telas em grande parte
dos lares de Montes Claros
e do Brasil, tantos como
os seus dias de alegria.
Mas nem só de tinta
viveu ele. De vez em quando
deixava de ser mestre
do pincel para ser mestre
na harmonia dos sons,
compositor que é
de quase cinqüenta
belas músicas,
muitas delas inseridas
em cadernos de modinhas
e de dobrados e de livros
de grande destaque como
o lançado pela
historiadora Milene Coutinho
Maurício. Muitas
não são
por aqui conhecidas, porque
ficaram com as bandas
de música da velha
Bahia, guardando a saudade
do autor.
Nota interessante é
que Godofredo começou
a compor música
em 1931, no mesmo ano
em que se casou com D.
Júlia, ao que tudo
parece, um amor mais sonoro
que colorido ou tão
sonoro como colorido,
como as duas artes poderão
explicar, pelo menos por
algum tempo, pois, afinal,
prevaleceu a pintura.
Como compositor, Godofredo
foi laureado com o Primeiro
Prêmio num concurso
de músicas juninas
da Rádio Inconfidência
de Minas Gerais. O título:
"VAI, MEU BALÃOZINHO".
Construiu também,
para variar de arte, inúmeros
instrumentos de cordas:
violinos, violões
e até um piano.
Isso mesmo, um PIANO!
Com cauda e tudo!
Em Montes Claros, Godofredo
recebeu cinco prêmios
como melhor pintor. Em
Belo Horizonte, oito anos
que participando da Feira
da Praça da Liberdade,
vendendo quadros todas
as semanas, foi várias
vezes homenageado.
Sua maior emoção
além do casamento
com D. Júlia: o
ato do recebimento do
título de cidadão
Honorário de Montes
Claros, em 1957, ano do
centenário da cidade,
aprovado por unanimidade
da Câmara, a pedido
do saudoso prefeito Geraldo
Athayde.
Outro grande momento foi
a noite de comemoração
dos seus 46 anos de pintura
, quando todos os artistas
de Montes Claros, sinceros
amigos, admiradores conscientes,
companheiros leais, juntamente
com autoridades, esposa,
filhos, genro, estiveram
no Centro Cultural Hermes
de Paula para abraçá-lo
e louvá-lo. As
solenidades, o encontro,
marcava quase meio século
de Arte que o alegrou
e fez crescer seus sonhos
pelas belezas da vida.
Foi um momento interessantíssimo,
de máxima emoção,
uma descoberta do verdadeiro
sentido da importância
de viver. Para Godô
e para todos nós.
Grande Godofredo, grande
GG, grande amigo, companheiro
e mestre, nossa mais sincera
gratidão pelo tempo
em que você viveu
e conviveu com a arte.
E conosco!