O título do romance que estou escrevendo
e ainda pesquisando sobre a vida de aventuras
do Capitão Enéas Mineiro de
Souza, não sei bem qual vai ser.
Pode bem ser chamado de “Bom dia Capitão”,
como poderá ser “Capitão–Capitão”
ou “Aventuras do Capitão”, ou ainda
“Amores do Capitão”. Na verdade,
ainda não tenho definição
definitiva. O tempo será o melhor
conselheiro para dizer o que ficará
melhor. O de que estou certo é que
a estrutura se comporá de cerca de
duzentas crônicas, todas elas escritas
na primeira pessoa, tendo as personagens
como narradores, cada uma delas com conhecimento
total do que lhes toca, a principal, é
claro, o próprio Capitão,
seguido logo de perto pelas suas mulheres
Cazuza, Moça e Neném, e do
seu irmão Epifânio, este um
interessantíssimo aventureiro desde
os tempos de garoto. Não sairei do
meu estilo de cronista semanal, de intimidade
com as pessoas e com as coisas, no geral
entrando também na história
e nas estórias.
Para escrever com base em fatos mais reais,
contrabalançando com a ficção
necessária de um romance, já
tenho vários anos de pesquisas junto
a parentes e amigos do Capitão, a
pessoas que trabalham com ele, que com ele
conviveram e participaram de suas vivências
no contra e no a favor, seja vendo-o como
herói, como santo, como valente e
audacioso, ou mesmo como adversário
temido e nem sempre estimado. Ao Capitão
Enéas, que era homem de decisão,
aventureiro por natureza, líder em
todos os campos, ninguém poderia
ficar indiferente. Era gostar ou não
gostar, amar e temer ao mesmo tempo, querer
proximidade ou distância, porque dos
seus desgostos emanava a fúria do
perigo e da ameaça, principalmente
contra os que tinham pouco e nenhum zelo
pelo alheio. Por exemplo, ladrão
para ele tinha hora marcada de afastar-se,
desaparecer de suas vistas, ou sumir-se
para sempre nas mais infinitas distâncias.
Os primeiros contatos com D. Neném,
com os filho, com Epifânio, com D.
Amparo e Sebastião Borges foi para
mim uma fase de quase encantamento. De minha
viagem a Monteiro, Pindurão, Campina
Grande, Congo, Camalaú, na Paraíba;
e a Sertânia, Jataúba, Caruaru,
em Pernambuco, foi possível descobrir
muitos mistérios e confirmar a maioria
das informações e dos casos
de seus encontros com os amigos Padre Cícero,
Graciliano Ramos, os Dolabela Portela, bem
como os inimigos Lampião, Antônio
Silvino e de participantes de outros grupos
do cangaço, alguns deles da sua trajetória
do Sul da Paraíba até o Norte
de Alagoas, em Palmeira dos Índios
e Quebrângulo, pude sentir a emoção
de suas caminhadas, com lutas e muitas labutas.
No momento, busco mais fatos ocorridos em
Minas e no Rio de Janeiro, em seu período
desbravador de Engenheiro Dolabela, Engenheiro
Navarro, Pirapora, Jequitaí, Montes
Claros, Brejo das Almas e Burarama, além
da fase industrial carioca e de Barbacena,
quando ele movimentou meio mundo de interesse,
tendo entre os seus amigos o governador
de São Paulo, Ademar de Barros e
o presidente do Brasil, Getúlio Vargas.
De Montes Claros e Engenheiro Navarro será
interessante uma passagem a limpo dos fatos
ligados à Revolução
de 30, quando o Capitão desembarcou
vindo do Nordeste com os seus quatrocentos
homens bem armados e municiados, prontos
para brigar.
Muito ainda tenho que fazer até chegar
à totalidade de conhecimento do homem
Enéas e do seu tempo. Que o leitor
me ajude a ter um pouco de paciência
e muito de coragem para definir trabalho
tão difícil, mas tão
grato na recomposição do passado
até certo ponto recente.