Wanderlino
Arruda
Tenho certeza
de que muitos colegas
não gostaram
quando eu disse, recentemente,
num encontro de lingüistas,
na UFMG, que o professor
tem de ser, acima de
tudo, um artista. Muitos
se revoltam quando,
pensando só no
ordenado - sempre insuficiente
- não vêem
motivos par a desdobrar-se
numa tarefa quase inglória,
parte pela situação
geral, parte pelo desinteresse
da maioria dos alunos.
Mas o que fazer senão
gostar do que se faz
e dar um pouco ou tudo
de si para melhorar
a situação
geral? Quem deve ter
maior juízo?
São os jovens,
os governos, ou os professores?
Bom que fosse mos três
juntos, mas, na impossibilidade,
salvem-se pelo menos
os mestres.
A lembrança do
assunto devo ao trabalho
da semana passada, feito
pelo companheiro Benedito
Said, em reportagem
sobre aulas do Padre
Aderbal Murta e de Baby
Figueiredo Sobreira,
na reciclagem de professores.
Bons pensadores, abnegados
ambos, falam os dois
da muita experiência
que têm no campo
da educação,
estudiosos e observadores
sempre atualizados,
a exemplo do que procura
fazer também
o Said, colega de muitas
lutas a partir da Faculdade
de Filosofia, no gostoso
curso de Letras.
É
realmente o professor
agente de transformação
social, agente de transformação
do aluno. Cabe à
escola modificar o jovem
para melhor, trabalhando
de tal forma que esta
melhora venha de dentro
para fora, uma espécie
de auto-burilamento,
quando todas as possibilidades
de crescimento mental
e moral numa eclosão
espontânea, normal
teria como guia o amor.
É preciso buscar
o interior do aluno,
incentivá-lo
na exteriorização
de suas virtualidades,
fazê-lo compreender
da necessidade do esforço
continuado, interessá-lo
no progresso, deixar
claro que o sucesso
é fruto de ingente
força de vontade
aplicada a cada dia.
Aprender não
é somente receber
conhecimentos, mas,
também, incorporar
aos conhecimentos através
da reflexão,
da disciplina mental
bem dirigida.
Material humano, sensível,
sujeito às mais
variadas reações,
o jovem não é
um robô. É
preciso que ele seja
conduzido, passo a passo,
para o gosto do aprimoramento,
uma espécie de
prazer diante do conhecimento.
Cabe ao aluno, antes
de tudo, sua própria
avaliação.
Mas, para que ele saiba
fazer isso, conscienciosamente,
é bom e necessário
que tenha as condições
de raciocínio
bem orientadas pelo
professor, não
nos esquecendo de que,
para Pestalozzi, "educar
é desenvolver
progressivamente as
faculdades espirituais
do homem". Educar
é tirar do interior,
e nada se pode tirar
de onde nada existe,
ou quando o existente
fica eternamente adormecido.
A diferença entre
o sábio e o ignorante,
o justo e o ímpio,
o bom e o mau, procede
de serem, uns educados,
outros não. Ao
professor cabe a grande
tarefa de provocar o
surgimento da verdade.
É sua a responsabilidade,
ninguém pode
fugir de uma missão
tão natural e,
até certo ponto,
de natureza divina,
pois, educar é
salvar.