Leonardo Da Vinci

Wanderlino Arruda

Uma das mais notáveis inteligências que a humanidade já teve em toda sua história. Uma habilidade intelectual e manual que - juntas - nem antes nem depois, jamais foi superada. Leonardo, o mestre Da Vinci, foi realmente um artista de talento. Em todos os sentidos, tanto na qualidade como na quantidade de criações. No espaço e no tempo, de tal modo que se coloca magistralmente até em nosso século, com invenções até hoje sendo incorporadas ao nosso acervo de cultura e de utilidades. Há pouco tempo, um caderno de rascunho de sua lavra foi vendido por milhões de dólares num leilão de raridades. Desenhos, projetos, receitas de inventos, tiradas filosóficas, conselho sobre artes e saber da vida, tudo com valor de hoje.

Não houve campo de especulação humana por onde não passasse o seu gênio. Assim, passou pela botânica, pela hidráulica, pela arquitetura, pela estratégia militar, fez mergulhos pelo mundo submarino e revoadas pelos ares. De sua prancha saíram desenhos de helicópteros, armas de guerra, hélices de navios, coletes salva-vidas. De seus lápis e pincéis apareceram belezas de formas e de cores de nenhum modo ultrapassadas, nem antes nem depois, talvez em tempo algum. Na escrita, o livro "Breviários", repositórios de notas dos cadernos, oferece-nos trechos que podem ser aplicados tanto na escola como na vida. São observações de eterno interesse.
Em qualquer avião moderno de passageiros, os coletes salva-vidas são de sua receita: "Para salvar-se de naufrágio, precisa-se duma roupa de couro que tenha as paredes do peito em dobro com a espessura de um dedo e que seja igualmente duplicada da cintura aos joelhos. Ao caíres no mar, sopra para dentro e deixa-te ao sabor das ondas. Na boca deverás ter um canudo que ligue com a roupa, por onde deverás receber ar, quando a espuma te impedir de respirar".
Sobre pintores que se queixam da vida: "Há uma classe de pintores preguiçosos que querem viver só sob o ouro e o azul; alegam ingenuamente que não trabalham bem porque são mal pagos. Gente reles! Não sabem fazer nada que preste, mas dizem: esta está bem paga, mas esta outra é medíocre e aquela é devido à casualidade; mostram assim que têm obras para todos os preços. Assim, pois, pintor, tem cuidado que o afã do lucro não prevaleça sobre a honra da arte: a conservação desta honra é mais importante que o prestígio das riquezas".
A respeito das cores na pintura: "As cores, de longe, são ignoradas e imperceptíveis. Para desenhar o realce é mister que o olho do modelo esteja na mesma altura do olho do artista. Isso fará com que a cabeça fique natural, pois os transeuntes com quem cruzas na rua, todos têm os olhos à altura dos teus e se os fizesses mais altos ou mais baixos, teu retrato não seria nada parecido. As roupas devem desenhar-se do natural. Os velhos devem parecer preguiçosos e de lentos movimentos, as pernas vergadas nos joelhos e os pés aleijados, a espinha curvada, a cabeça para a frente e os braços pouco estendidos. as mulheres em atitudes modestas, as pernas fechadas, os braços juntos, a cabeça baixa e inclinada. As velha devem ser representadas atrevidas, com movimentos vivos e raivosos, com fúrias infernais: os movimentos dos braços mais vivos do que os das pernas".
Uma definição de paz: "Dizem que o castor, quando perseguido, por saber que seus testículos possuem virtudes médicas, não podendo mais fugir, pára, depois de fazer as pazes com os caçadores, corta os testículos com seus dentes agudos e os deixa com seus inimigos".
Uma definição de avareza: "Avareza é a do sapo que come terra, mas nunca tanto quanto deseja, com medo que acabe".
E sobre a arte, centro de sua vida: "A pintura sobrepuja todas as obras humanas pela sutil especulação que lhe pertence. Se vós, historiadores, poetas, observadores, não tivésseis visto com os olhos, nada poderieis referir em vossos escritos, que são nascidos da pintura".