Wanderlino
Arruda
Fez um grande mal
à humanidade,
pelo menos a humanidade
da língua portuguesa,
o engraçadinho
que apelidou o dicionário
de “pai dos burros”.
Brincadeira ou gozação,
quanta gente tem ficado
longe do léxico,
com medo de fazer
uma consultazinha,
só para tirar
onde de sabido, auto-suficiente.
É pena, porque
um bom ou mesmo pobre
dicionário
nunca fará
mal a ninguém
e, aliás, poderá
até ajudar.
E muito. É
um santo remédio
para qualquer um na
hora de tirar dúvida
ou uma boa dose de
certeza vocabular
e semântica,
um esclarecimento.
Dicionário,
se fosse pessoa, seria
gente fina, que é
outra coisa...
Há dicionários
para todos os fins,
na língua portuguesa,
desde o mais conhecido,
que é o de
sinônimos, até
os analógicos,
de idéias associadas.
De gramática,
de antônimos
e parônimos,
dicionário
etimológico,
de nomes próprios,
de conjugação
de verbos, de prosódia,
de gírias,
de termos técnicos,
históricos,
geográficos,
de filosofia, bíblico,
de tudo... Parece
brincadeira, mas existe
até um de palavrões,
editado há
uns dois anos, com
todo o desbocamento
da brasilidade patrícia
e plebéia.
Tenho um de mulheres
da Bíblia,
outro de mitologia,
um outro que só
fala de dificuldades
da língua.
Quando uma pessoa
é muito rica,
ou pensa que é,
ou não sabe
se livrar da bicaria
dos vendedores, compra
lindos dicionários
enciclopédicos,
de muitos volumes,
luxuosos, apropriados
para enfeitar estantes,
se possível
nas salas de visitas.
São lindos
por fora, dourados,
brilhantes, verdadeiras
jóias, maravilhosas
para o olhar e até
para o manuseio. Na
maioria das vezes,
esses tesouros ficam
parados, inúteis,
porque a sabedoria
às vezes é
tanta, que o proveito
é sempre pequeno,
a menos que haja garotos
na idade escolar,
sempre prontos a copiar
tudo que encontram
para defender uns
pontinhos no fim do
mês. Quão
bom seria se todos
pudessem aproveitar
mais das enciclopédias!
E como são
felizes os que delas
tiram proveito!
As escolas deveriam
incentivar mais a
pesquisa nos dicionários.
Isso seria, imediatamente,
uma melhoria no grau
de conhecimento da
língua portuguesa,
tanto na ortografia
como no tocante ao
significado. Quando
uma pessoa passa a
valorizar a palavra,
ter interesse por
ela, sentir que cada
uma é realmente
um universo de vida
e poder, já
é meio caminho
andado para uma interessante
realização
de cultura. O dicionário
é um veículo
de uso individual
ou coletivo, silencioso,
sempre pronto a transportar
seus usuários
para um país
de realidade ou de
encantamento. Não
tenha medo de usá-lo,
de dia ou de noite.
Dicionário
é amigo. Amigo
e companheiro...